quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ainda - e mais uma vez - o Comportamento da Taxa de Lucro

Tenho dito, escrito e repetido que a taxa de lucro está para o sistema capitalista como a força de gravidade está para o planeta Terra, ou que como as cenouras para os coelhos ou o agitar do pano vermelho para os touros... 
Isto parece mania, mas não é... 
Também costumo citar Kurt Lewin (famoso sociólogo norte-americano de origem germânica e refugiado aos nazis) quando ele dizia que «não há nada mais prático do que uma boa teoria».
Por outro lado, todo e qualquer empresário pode confirmar que só se justifica fazer investimentos – e não aqui estou a falar de «aplicações financeiras» (mania que alguns comentadores e jornalistas têm de chamar «investidores» a pessoal que gere essas aplicações financeiras»...) - se as perspectivas de lucro forem suficientemente atractivas.
Assim sendo pareceria razoável que os dirigentes de um qualquer país prestassem atenção aos sinais que venham das «profundidades» (mais ou menos invisíveis) da economia real. Designadamente o comportamento da taxa de lucro.
Ao longo dos últimos 34 anos tenho dedicado parte do meu tempo a estudar esta temática – o que me levou por uma enormidade de leituras dos mais diversos autores e a algumas interessantes discussões sobre a viabilidade (ou não) de demonstrar uma alegada queda tendencial da taxa de lucro e de comprovar (ou não) a sua razoabilidade e aplicabilidade aos dados históricos empiricamente verificados.
Entretanto - e para que conste - o trabalho cujos resultados apresento mais abaixo não teria sido possível sem a preciosa (ou inestimável) colaboração de um colega do programa doutoral em ciências da complexidade do ISCTE e da FCUL.
Por outro lado, há umas semanas atrás solicitei a um grupo de leitores com quem esta questão tem sido discutida, alguma opinião crítica sobre a legibilidade do gráfico que aqui se apresenta.
Passo a esclarecer:
Se a taxa de lucro funciona simultâneamente como «motor» e «indicador» da dinâmica de investimento, já o nível geral de emprego funciona, quer como indicador da «saúde» do sistema económico, quer como indicador da expansão e retracção, ou seja, da dimensão do sistema como um todo.

A respeito da queda tendencial da taxa de lucro, escrevia Keynes o seguinte:
«Mas pior ainda. Não só a propensão marginal para o consumo é mais fraca numa comunidade rica, mas, devido ao facto de que a sua acumulação de capital ser já maior, as oportunidades de mais investimento são menos atraentes a menos que a taxa de juro desça a um ritmo suficientemente rápido»
Qualquer observador das coisas das finanças sabe que as taxas de juro dos bancos centrais estão perto do zero (ou mesmo negativas, se levarmos a inflação em linha de conta). Ou seja, há muito tempo que a taxa de lucro deixou de funcionar como incentivo ao investimento real.

O gráfico apresentado mais abaixo, apresenta o comportamento do sistema nas duas variáveis aqui consideradas: a taxa de lucro e o nível de emprego.
Considerei aqui uma taxa anual de refluxo (aquilo que reflui para o sistema sob a forma de investimento real) de 1,5% com impacto sobre a produtividade agregada de 2,8% e uma taxa de destruição periódica de 25% do «valor acumulado» (capital fixo e capital constante)1,
A simulação aqui reproduzida contempla 210 anos (foi em 1803 que foi inaugurada a primeira linha de caminhos de ferro e apresentado o primeiro barco a vapor...) de evolução teórica (nos circuitos electrónicos de um qualquer computador...).

Como não disponho dos meios necessários e suficientes para isso, tenho mesmo que deixar ao cuidado de eventuais historiadores e economistas menos ortodoxos, a eventual tarefa de documentar e comprovar (ou não) a aplicabilidade disto tudo à história económica dos últimos séculos. 
Era capaz de dar um bom terreno para teses de doutoramento...
Na espécie de simulação que qualquer pessoa se pode entreter a experimentar qualifico a destruição periódica de valor acumulado como «Factor Potlatch».
A razão é simples: «potlatch» era um cerimonial dos povos do Noroeste da América do Norte em que eram destruídos e/ou consumidos excedentes económicos em ritos de grande ostentação – uma especie de desafio a ver quem era «mais rico». Tais cerimónias foram proíbidas pelos governos dos Estados Unidos e do Canadá já em princípios do século XX.
 Moral da história: Se «isto» corresponder à realidade dos factos - ou seja, se a tese da queda tendencial da taxa de lucro estiver correcta ou se for possível comprová-la por observação empírica ou pelos registos históricos - então bem podem clamar por «mais empreendedorismo», por «mais financiamento à economia» e por muitos e variados «incentivos» que o «bicho» mexe»...
Quando muito vai-se arrastando.
Uma outra conclusão - e já muita gente diz isso - se o gráfico acima representar minimamente a realidade económica, então os cerca de 10 milhões de empregos perdidos nos últimos cinco anos  só na Europa  (diz a OIT...) só voltam a ser recuperados daqui a mais uns vinte anos...

Clique aqui para ir ao sítio da experimentação.
 
1Estou aqui consciente da sobreposição destas duas categorias analíticas...

2 comentários:

  1. Eu vou lendo, atentamente, mas preciso um dia destes de explicações complementares...não chego lá sózinho!Abraço, Silva Alves.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estimado Silva Alves,
      Vou tentar - numa nova mensagem que preparo de seguida - iniciar alguns esclarecimentos.
      Até porque recebi alguns comentários por via de «email»

      Eliminar