quinta-feira, 9 de maio de 2013

A PROPÓSITO DE ALGUNS COMENTÁRIOS – 3

Continuação...
Nas sociedades que hoje consideramos «antigas» ou «primitivas» o processo de «acumulação» era naturalmente elaborado pelas colectividades como um todo, cada uma sob a direcção de um «chefe», fosse ele um «rei», um «imperador» ou outra coisa qualquer.
Para efeitos desta explanação, digamos que a partir de certa altura – e de modo diferenciado em cada sociedade humana – o processo de acumulação passou a beneficiar uns grupos em detrimento de outros. Ou então beneficiando mais uns grupos sociais do que beneficiava outros grupos dentro da mesma sociedade. Podemos também assumir (ou supor) que alguns grupos sociais dentro de algumas sociedades conseguiam impor, a outras sociedades «estrangeiras», a entrega dos seus excedentes, no todo ou em parte. Para o efeito era preciso fazer alguma forma de expansão territorial, normalmente acompanhada de expansão demográfica.
Mas isso da expansão geográfica e demográfica é aqui e para já (para esta explanação), pouco relevante. 
O que importa aqui considerar é que a partir de determinada altura alguns dos grupos de «agentes económicos» que se iam apropriando dos excedentes produzidos no seio de cada sociedade como um todo, autonomizaram-se (nesse processo de apropriação) relativamente aos «chefes», «reis» ou «imperadores» que até aí tinham sido os «agentes» preponderantes nas decisões de produção de excedentes e sua apropriação (colectiva ou pessoal). Estou aqui a pensar em canais de irrigação assim como em fábricas (manufacturas reais) e criação conjunta de companhias magestáticas por parte de alguns «soberanos» e grupos de mercadores.
Essa autonomização veio a dar origem a um predomínio – hoje absoluto – de um determinado conjunto de regras que determinam o modo como se joga a interacção entre, por um lado, a sociedade humana com a Natureza e, por outro lado, entre dois grandes tipos de «agentes económicos».
Relativamente à interacção entre a Humanidade e a Natureza pouco há a dizer aqui, a não ser chamar a atenção para o facto de que o crescimento ilimitado (porque também é disso que se trata) num planeta com claros e bem determinados limites físicos é simplesmente impossível a partir de uma determinada fase do processo de acumulação.
Se estamos perto ou ainda longe de alcançar esses limites é algo que aqui não interessa para efeitos desta explanação. Apenas se presume aqui que o processo de acumulação continua através da apropriação e transformação de parcelas da Natureza, por parte dos diversos grupos sociais.
Por outras palavras, é ao mais profundo nível de abstracção, e tendo em linha de conta apenas a produção e distribuição de «coisas com valor» que se deve proceder a esta análise. A questão da expressão monetária desses valores (ou seja, o «dinheiro»...) não entra aqui nestas considerações.
São questões importantíssimas mas devem ser discutidas a outro nível de análise.
(para continuar...) 
 

3 comentários:

  1. Essa apropriação por grupos "privilegiados" carece de explicação porque não é óbvia para mim a vantagem obtida por se ter mais. Há um artigo com que me cruzei há uns anos (More Status or More Children? Social
    Status, Fertility Reduction, and
    Long-Term Fitness
    James L. Boone and Karen L. Kessler
    Evolution and Human Behavior 20: 257–277 (1999))
    que aborda a questão de a apropriação da riqueza ser instrumental (termo meu) para a obtenção e manutenção de estatuto social, que estará ligado à capacidade de sobrevivência a longo prazo. Mas é um assunto que, à data do artigo, carecia de mais investigação e é uma das hipóteses do artigo (mas aquela que os autores acarinham mais).

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    1. Muito bem observado... Mas atenção, aqui neste contexto, eu limito-me a constatar essa apropriação. Não tive - nem tenho - a pretensão de a explicar. Posso apenas imaginar (especular...) que, à semelhança do que parece ser o caso com alguns dos nossos «primos» símios, haja no nosso código genético algumas «instruções» no sentido de cada um procurar garantir primordialmente a sua descendência pessoal em detrimento - se for necessário - da descendência de outros individuos.
      Seja como for, penso que a partir do momento que há «apropriação» por uns grupos em detrimento de outros, para a dinâmica (e respexctiva lógica) de acumulação (material ou equivalente) a INTENÇÃO inicial dessa apropriação torna-se irrelevante.
      Mas posso estar enganado...

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  2. Não assinei o comentário anterior - Augusto Carreira

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