segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um terceiro apontamento sobre a «Ratoeira da Dívida»

A propósito do papel funcional da dívida.
Em primeiro lugar, sem a existência da ideia e da práctica da dívida não haveria processo de acumulação económica nem tinha havido o processo de evolução social e económica historicamente verificado. Portanto, à primeira vista «a dívida é uma coisa boa»...
Só que o modo de pensar dialécticamente já nos devia ter ensinado que as coisas não sempre «boas», nem são sempre «más»...
Tudo depende do grau da evolução histórica, da fase dessa mesma evolução, assim como do próprio grau ou «densidade» específica da dívida (se é de mais ou se é de menos...).
Se a dívida é de mais passa a ter outras características funcionais. Deixa de ser benéfica para o funcionamento minimamente equilibrado do sistema (mesmo quando parece ser uma «bóia de salvação») para passar a ser contraproducente. Como se está a ver, ao travar quaisquer hipóteses de recuperação da economia.
Qualquer estudante de engenharia (ou de sociologia), que tivesse feito uma cadeira de «teoria geral de sistemas» podia, há muito tempo, ter explicado isto aos senhores da «toika» (ou da «quadrilha» para utilizar a feliz expressão de Pacheco Pereira).
A actual dívida soberana, pela sua dimensão e especificidades (os tipos de credores e o destino ou aplicação que é dada aos «reembolsos» que vão sen efectuados – a compra de mais «títulos de dívida» ou «obrigações do tesouro») tornou-se simplesmente absurda, aberrante, impagável e contraproducente. O instrumento de crédito/dívida deixou de ser funcionalmente útil para passar a ser um garrote que impede a economia de simplesmete redspirar, quanto mais recuperar e crescer.
É por isso que cada vez mais vai havendo notícia de um número crescente de economistas (os não convencionais...) que vão chamando a atenção para a necessidade de anular a dívida. Em parte, de modo selectivo, ou mesmo na sua totalidade.
Apenas a título de exemplo (e para quem entenda bem o Inglês) remeto aqui para uma entrevista no bem conhecido programa «HardTalk» da mais que insuspeita BBC, realizada em 2011, com o economista australiano Steve Keen.
Já o antropólogo David Graeber, por exemplo, assinala a recorrência histórica ao longo de séculos daquilo a que, a propósito do movimento internacional por ocasião do Ano 2000, se convencionou chamar (de novo...) «Ano do Jubileu», querendo com isso significar o ano da anulação das dívidas, tal como já vinha referido na Biblia e era também praticado nas antigas civilizações do Oriente e do Médio Oriente.
Para muito boa gente (e até gente bem colocada para saber do que fala) a melhor saída para este imbroglio (eventualmente até a única saída...) acabará por ser:
- A anulação da dívida (ou grande parte dela), 
- A nacionalização da banca (e falência «controlada» dos bancos  insolventes). 
e depois, 
- Recomeçar de novo.
No entanto, isto é o que recomendam esses alguns economistas heterodoxos e não convencionais, esquedendo no entanto que a História (contrariamente ao que se possa pensar) não se repete e que não vai ser possível «recomeçar de novo» sem profundas alterações nas «regras do jogo».
Há quem lhe chame Revolução. 
Outros preferem talvez «evolução acelerada» ou apenas «reformas MUITO profundas»...
Seja como for, «isto assim não pode ficar». 
Vai ser preciso cortar cerce o garrote que impede as economias de respirar... 
 

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