terça-feira, 2 de abril de 2013

CHIPRE - A opinião de um economista heterodoxo, de orientação keynesiana

Sem muitos comentários - e pela sua oportunidade - transcrevo para aqui um breve texto de um blogue de economistas espalahdos por todo o mundo: «Real World Economics»

«Jeroen Dijsselbloem (ministro das finanças da Holanda e presidente do Eurogrupo) fez aquilo que devia ser feito» 
Por Merijnknibbe
Autor participante do blogue da Revista «Real World Economics»

«Chipre está um desastre. A meu ver, foram cometidos muitos erros, por exemplo, durante os anos de expansão de 2004-2007, quando o BCE se recusou a considerar (de modo separado... GFS) os desenvolvimentos em países individuais e, por razões ligadas à teoria económica das «expectativas racionais» (neoliberalismo, digo eu - GFS), equiparou a estabilidade financeira com uma inflação baixa e estável.

E não foi o caso de que ninguém tivesse alertado para isso. Em 2002, Cladio Borio e Philip Lowe (do Banco Internacional de Compensações) alertaram, já em 1992 Wayne Godley tinha alertado. Um subconjunto inteiro de crises económicas recebeu até o nome de Minsky.

Depois da expansão, o BCE falhou ao não implementar taxas de juros reais efectivamente baixas para as famílias e empresas nos países do Sul da Europa – deviam ter comprado muito mais obrigações do Tesouro (daqueles países) e atenção, isso não seria inflacionário numa situação em que o montante do dinheiro M3 na Grécia declinava em cerca de 40%.

Bom, mas não vale a pena chorar sobre triliões estragados. Mas terá Jeroen Dijsselbloem cometido um erro quando afirmou que os depositantes com mais de 100.000 deviam levar uma ripada? Claro que não. Então, por que razão Dijsselbloem levou com toda esta barragem de críticas na imprensa internacional?

Na Irlanda, são os pobres quem, neste momento, aguenta com o pagamento de impostos mais elevados porque os grandes depositantes e detentores de obrigações seniores dos bancos foram ajudados.

Em Chipre, esses grandes depositantes e os obrigacionistas têm que se contentar com “acções Diógenes” (expressão utilizada para referir “acções desvalorizadas”. Nota de GFS).

Então, faço de novo a pergunta: “Por que razão toda gente criticou Dijsselbloem?”»


Notas adicionais de GFS:
1. M3 é o agregado de “moeda” de maior dimensão: Para além das notas e moedas em circulação e montantes de depósitos à ordem, inclui todas as contas de poupanças, depósitos a prazo de menos de 100.000 dólares (...) assim como todos os outros instrumentos monetários como será o caso, por exemplo, de depósitos em eurodólares e depósitos acima dos referidos 100.000 dólares.
2. “Obrigações séniores” são títulos de dívida que têm precedência em caso de falência.
3. Gostava de sublinhar a frase “Na Irlanda, são os pobres quem, neste momento, aguenta com o pagamento de impostos mais elevados porque os grandes depositantes e detentores de obrigações seniores dos bancos foram ajudados”.

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