segunda-feira, 4 de março de 2013

A dívida absurda ou a aberração da dívida

Somos alguns milhões – só em Portugal – a sermos esbulhados, por meio de impostos e contribuições cada vez mais exorbitantes, para pagarmos uma dívida pública «externa» que não contraímos. Alguns papagaios, comentadores e «economistas» de aviário dizem-nos também que «não há alternativa», temos mesmo que pagar («eles emprestaram ou não emprestaram»?...).

Vamos por uns minutos imaginar que esta dívida pública (esta e as outras, dos outros páises todos...) é uma dívida legítima. Que até resulta de empréstimos feitos por entidades que tinham acumulado esses capitais financeiros com toda a legitimidade e, sobretudo, sem terem fugido ao pagamento dos impostos sobre os lucros ao longo de várias décadas. Mesmo assim, nessas hipotéticas circunstâncias de legitimidade, o que me parece mais aberrante (estupidamente aberrante...) é que isso, o pagamento da dívida (se por milagre alguma vez acontecesse...) não serve para nada... 
Ou seja, aquele dinheiro todo «que nos vai sendo emprestado e que nós vamos pagando» não vai ter uma qualquer outra aplicação que não seja voltar a ser emprestado. Acumulando juros e "capital emprestado". 
Quando muito na compra («investimento» dizem eles...) de coisas que já existem... 

Per secula seculorum... Se entretanto os povos não se revoltarem, claro...

Acontece que existe no sistema capitalista um característica muito peculiar e que eu designo por «esgotamento progressivo de oportunidades de investimento». Investimento lucrativo, claro. Não é difícil demonstrar a existência dessa característica, mas isso não cabe agora aqui. Em todo o caso essa demonstração está feita e disponível para quem estiver interessado.

Em consequência desse esgotamento progressivo das oportunidades de investimento, os donos e gestores de todo aquele capital financeirto procuram naturalmente aplicações alternativas. Vamos imaginar que na busca de aplicações financeiras rentáveis conseguem todos os seus objectivos; ou seja a obtenção de oportunidades de aplicação rentável em coisas ou actividades úteis e necessárias à sociedade e que sejam susceptíveis de «compra e venda» (os mercados, sempre os mercados....).

Como vão assinalando os observadores mais atentos, aquelas «coisas ou actividades úteis e necessárias à sociedade» que constituem aquelas oportunidades de investimento e que estão assim «à mão de semear», são a privatização de tudo e mais alguma coisa que compete a um Estado moderno, progressista e com um mínimo de preocupação por tudo quanto é social.

Vamos pois imaginar que eles conseguem privatizar todos os ensinos públicos e todos os serviços nacionais de saúde e que conseguem também privatizar toda a distribuição de água (um monopólio natural por execelência...). Acrescentemos a isso a privatização de portos e transportes (vias férreas e todo o tipo de estradas) e ainda (porque não, já agora...) a privatização da segurança interna e da Justiça.

Vamos então imaginar que com todas essas privatizações, e através da manipulação de preços, os donos do capital financeiro, conseguem obter taxas de lucro melhores do que as «meras« aplicações financeiras. Nessa altura, em vez de nos retirarem «poder de compra» por via dos impostos para «pagarmos a dívida», vão-nos retirar «poder de compra» por via dos preços – que teríamos que pagar – por aqueles serviços que antes eram prestados de modo tendencialmente gratuito pelo Estado.

E depois?...

Nesse cenário de pesadelo absurdo de onde viria o «poder de compra» necessário e suficiente para escoar a oferta daqueles serviços todos?...

É neste contexto que se coloca a questão da aberração do pagamento indefinido de uma dívida absurda. Se os senhores da «troika» e seus mandatários locais (aqui ou na Grécia, por exemplo) tivessem um pingo de bom senso, talvez fosse possível perguntar-lhes «o que vão fazer com o dinheiro dos pagamentos das dívidas públicas»...

Para onde vão todos esses fundos financeiros?... Para que servem?... Em que vão ser aplicados (ou «investidos»)?

Muito provavelmente responderiam que «não temos nada a ver com isso», o dinheiro é deles (ou melhor dos seus patrões...) e eles, os patrões, é que têm que decidir o que querem fazer com os dinheiros que alguém fabricou, sendo que este «fabrico de dinheiro» resultou a partir de lucros empresariais minimanente legitimos (mas sobretudo engordados com o não pagamento de impostos), ou a partir da fabricação de dinheiro ou capital fictício resultante da criação de empréstimos bancários virtuais...

Mas a resposta mais prosaica seria muito provavelmente a de que esses fundos financeiros todos serão de novo aplicados na compra de mais dívida pública...

É evidente que o Planeta está cheio de oportunidades para fazer coisas, úteis e necessárias; desde a regeneração do meio ambiente (o mar e as florestas...) até à renovação de estruturas físicas e desenvolvimento de novas tecnologias de fontes de energia e de aproveitamento «verde» das coisas da Natureza.
Só que isso, tudo isso, cai cada vez mais no âmbito da coisa pública... 
Não constitui oportunidade de investimento que tenha o lucro como objectivo imediato.

Ou seja, o sistema parece ter entrado num beco sem saída. 
Mas «saídas» há: o caos (e a barbárie...) ou o Socialismo.

1 comentário:

  1. Divulgar por todos os meios estas verdades elementares que são escondidas, faz parte da luta que estamos travando.

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