quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os buracos negros da ciência económica

Transcrevo para aqui o título de um livro, da autoria de Jacques Sapir, que tive ocasião de ler faz agora, mais ou menos, um ano. Tem como subtítulo «Essai sur l'impossibilité de penser le temps et l'argent».
Embora o autor faça uma crítica severa e cáustica do paradigma predominante no ensino das «ciências económicas», partindo para isso de algumas premissas que se podem encontrar também em Keynes, consegue não fazer qualquer referência ao problema fundamental da teoria económica, ou seja, o conceito de
valor. Assim como ao processo social (e histórico, que se desenrola no tempo concreto da vida social...) da transformação de valores em preços. Já nem digo por referência ao famigerado problema ricardiano da «transformação» de «valores» em «preços de produção», mas sim ao simples (?...) problema da trivial situação de que, no mercado capitalista, as pessoas trocando valores só o podem fazer sendo estes expressos em dinheiro. Estou aqui a pensar que é através do dinheiro (e do controle da sua emissão, cada vez mais ao sabor de entidades privadas) que determinadas classes sociais se podem apoderar de maiores parcelas do valor criado pelo colectivo social, em detrimento de todos aqueles que não participam nesse controle... Pelos vistos a teoria (laboral) do valor continua afastada de muita a reflexão ciêntífica, passando-se assim de lado em relação a alguns dos problemas fundamentais da economia e das crises que nos vão afectando a todos. A muitos de nós, MUITO MAIS do que a outros, claro... O autor, Jacques Sapir limita-se (o que já não é pouco...) a chamar enfáticamente a atenção para o facto de que a ciência económica trata o TEMPO como uma espécie de «ESPAÇO virtual» (se algum cientista físico, naturalmente einsteiniano (...) por acaso ler isto, é capaz de sorrir...) onde as coisas se podem repetir «até dar certo». Julgo que foi Joan Robinson - uma keynesiana que parece que quase virou marxista (...) quem também chamou a atenção para o facto de que Keynes frisava a necessidade de considerar as sociedades concretas no seu tempo histórico concreto.
Claro que tudo isto se prende com a aparente (diria quase que estranha) incapacidade de muitos economistas convencionais em pensarem dialéticamente... Em verem as coisas e os fenómenos da economia como estando num devir permanente e contínuo.

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