sábado, 5 de novembro de 2011

Dos paradigmas e das teorias

Uma metáfora muito comum ilustrativa da abordagem ou «Teoria do Caos» é a estória de um batimento de asas de uma borboleta algures no Estado de São Paulo, por exemplo, poder provocar uma tempestade algures no Estado do Texas, também por exemplo. Esta metáfora procura exprimir de forma algo caricata que, na atmosfera terrestre assim como na biosfera tudo está interligado com tudo. Terá havido um tempo em que esta estória de «tudo estar interligado com tudo» possa ter servido para abdicar de análise e investigação das causas de muitos e diversos fenómenos. Se tudo está interligado com tudo, então tanto faz começar por aqui como começar por ali que os resultados sempre acabariam sendo explicações que de tanto explicarem acabavam também por, na realidade, nada explicarem.

No caso da sociedade humana e da sua casa comum que é o planeta Terra, alguns sociólogos e economistas desenvolveram há muito o conceito de «sistema-mundo», querendo com isso significar e estudar o conjunto global de interligações que se foram historicamente estabelecendo entre todas as diversas comunidades (e seus assentamentos territoriais) através de um processo de evolução histórica, longo de alguns (muitos...) milénios.

Uma das polémicas que animou os especialistas daquela abordagem do «sistema-mundo» aqui já há uns anos atrás, foi justamente a do calendário e temporalidade da construção do actual «sistema-mundo», hoje de âmbito claramente planetário. Para o sociólogo Immanuel Wallerstein, o nosso «sistema-mundo» de âmbito planetário (digo eu...) teria aproximadamente 500 anos, pois a sua génese estaria na «descoberta» das Américas por parte de Cristóvão Colombo e a chegada de Vasco da Gama à Índia por via marítim. Já na perspectiva do economista (muito heterodoxo) Andre Gunder Frank, o nosso sistema-mundo teria já uns dois ou três milhares de anos. Dizia Gunder Frank que o sistema-mundo constituído pela faixa continental que vai da bacia do Mediterrâneo até à China e à Indía, estava já suficientemente integrado (e por isso é que constituía um «sistema-mundo»...) para que problemas climatéricos (ou outros) que afectassem seriamente a criação de bichos de seda na China vinham pouco mais tarde (meses?...) a refletir-se no nível de preços em Roma.

A situação que hoje vivemos, com esta crise de dimensão planetária, não é assim tão diferente quanto alguns gostariam de pensar. Bem antes pelo contrário. As tecnologias de informação e comunicação de que hoje dispomos passaram aqueles «meses...» para coisa de horas e minutos. Ou seja, aquilo que acontece hoje a qualquer hora na China tem reflexos quase imediatos em qualquer outra parte do mundo. Sendo que a inversa também é verdadeira. Vivemos assim num mundo total e plenamente integrado em que não faz muito sentido falarmos de «crise em Portugal» ou «crise na Grécia».

2 comentários:

  1. Presentemente estou a ler "O Preço das Coisas". Está a ser muito interessante, além de ser um livro escrito de uma forma muita clara.
    Se me permite a referência a outro autor, penso que juntar este livro ao "As voltas que o mundo dá..." do prof. Avelãs Nunes (editado o ano passado) é uma grande ajuda para compreender, de modo simples e conciso, a situação política/económica que atravessamos.

    Fico contente por a partir de agora poder lê-lo na blogosfera. Bons posts!

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  2. Obrigado Pedro Mendes...
    «Isto» sou eu que ainda estou a «gatinhar» na blogoesfera. Estive com o Prof. Avelãs Nunes numa sessão de autógrafos e trocámos de livros...

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