segunda-feira, 7 de maio de 2018

A Propósito do Bi-Centenário do Nascimento de Karl Marx


Ao longo dos últimos dias têm aparecido, um pouco por todo o lado, umas referências ao bicentenário do nascimento de Karl Marx. Não me lembro se quando foi o centenário no nascimento de Albert Einstein terá havido igual comoção pública. Um foi um génio das ciências «histórico-sociais», outro foi um génio das ciências «físicas». Também por isso Karl Marx pode – com toda a justiça – ser considerado o Einstein das ditas ciências «histórico-sociais». A grande – enorme - diferença é que um mexe com um ramo do conhecimento que os «donos disto tudo» ou a alta burguesia, facilmente controla e de que até se aproveita com toda a naturalidade. A Física e a Química são fundamentais para a produção e controle das riquezas. Enquanto que o outro mexe directamente com um ramo do conhecimento que põe directamente em causa a sustentabilidade lógica do sistema de produção e distribuição de riqueza a que chamamos Capitalismo.
Já nem falo da Ética, pois que essa faceta não tem a ver com «ciência» pura e dura...
Entretanto tal como Einstein cometeu alguns erros – em relação a um deles (a famigerada «constante cosmológica») o próprio afirmou ter cometido a maior asneira da sua vida, sendo que afinal parece que nem terá sido uma asneira.
Mas adiante. Pois se Einstein (e também Newton já agora...) cometeu erros, nada de mais natural que, no meio de milhares de páginas escritas, também Karl Marx tenha cometido alguns erros. Designadamente na forma como se exprimiu relativamente a alguns temas e problemas mais bicudos e, sobretudo, com as várias mudanças de formato com que queria apresentar (sublinho o apresentar!...) as suas teses.
Mas continuemos.
Na minha assumidamente imodesta opinião, o comportamento evolutivo da taxa de lucro é o elemento crucial que ajuda a compreender a lógica e a dinâmica profunda do sistema capitalista, com reflexos indirectos, mas fortíssimos, na nossa vida diária. Desde a corrupção com que nos bomdardeiam todos os dias, até às guerras por causa dos combustíveis fósseis e das tentativas de manter uma hegemonia politico-militar a todo o custo, passando pelas privatizações de tudo e mais alguma coisa.
Entretanto, o fenómeno recorrente da tendência para a queda da taxa de lucro era (e é!...) um fenómeno empiricamente constatado. Essa constatação já vem desde pelo menos os tempo de Adam Smith. A noção de que é preciso provar (ou demonstrar...) essa queda tendencial da taxa de lucro é uma noção profundamente errada. Repito e sublinho: é uma noção profundamente errada. Seria como se fosse necessário demonstrar a força da gravidade. Um tal «erro» só se pode explicar por enviesamento ideológico. E no entanto são aos milhares as páginas publicadas a esse respeito. Para provar, confirmar ou infirmar se de facto existe, ou não, uma tal tendência.
Ficamos com a sensação de que depois de os clássicos – e mesmo Keynes nos tempos mais recentes – terem constatado, observado e relatado a referida tendência para a queda da taxa de lucro (e lembremos que a maximização do lucro é o farol que orienta toda a actividade das empresas...), por artes mágicas da «Natureza», essa tendência evaporou-se... Saiu do planeta Terra e foi dar uma volta por outra galáxia.
A esse respeito veja-se a incontornável Wikipedia:
«A tendência para a queda da taxa de lucro é uma hipótese (note-se bem, digo eu...) uma «hipótese» em teoria económica e economia politica, famosamente exposta por Karl Marx no capítulo 13 de O Capital, Volume III.»
Uma hipótese... O autor daquelas linhas que se atire de uma janela abaixo e logo vê se a tendência da força da gravidade para atrair os corpos pesados também precisa de ser «demonstrada».
Mais adiante, na mesma Wikipedia, vem:
«No seu manuscrito de 1857 «Grundrisse», Karl Marx considerou a tendência para a queda da taxa de lucro, «a mais importante lei da economia política» e procurou dar-lhe uma explicação causal, nos termos da sua teoria da acumulação de capital. A tendência vinha já pressagiada no capítulo 25 d'«O Capital», Volume I (Da “lei geral da acumulação de capital“), mas na Parte 3 do manuscrito do Volume III, editado postumamente por Friedrich Engels, vem uma extensa análise dessa tendência. Marx considerava a tendência para a queda da taxa de lucro como prova de que o capitalismo não poderia durar para sempre como modo de produção dado que no fim se esgotaria o próprio princípio do lucro. No entanto, porque o próprio Marx nunca publicou qualquer manuscrito definitivo sobre a tendência para queda da taxa de lucro, porque a tendência é difícil de provar ou infirmar teoricamente, e porque é difícil testar e medir a taxa de lucro, a teoria de Marx da tendência para a queda da taxa de lucro tem sido um tópico de controvérsia ao longo de mais de um século».
É o que nos diz o repositório do conhecimento politicamente correcto que é suposto ser toda e qualquer enciclopédia. Para o caso a Wikipedia.
A questão que aqui importa sublinhar é que, relativamente à «lei da queda tendêncial da taxa de lucro» o quese tem que fazer não é demonstrar. Trata-se sim de explicar... Sublinho: explicar!...
Mas no que diz respeito às homenagens, publicações e reflexões sobre o bicentenário do nascimento de Karl Marx, sobre estas questões – cruciais para entender o Mundo – quase nada, perto de «nicles»...
Pela minha parte (a imodéstia é muito feia, não é?...), já re-escrevi o livro «Os “Erros” de Marx e os Disparates dos Outros» (alterei o título do anterior livro que aproveitei em grande parte).
Editores?... «Está difícil»... «É complicado»... «Talvez pró ano»...

sábado, 28 de outubro de 2017

A Propósito da Catalunha

Paradoxos das democracias (quer as burguesas, quer as populares).
É sabido que o idioma (a língua falada e escrita) é um dos principais «cimentos» da identidade nacional. Há outros, mas isso não vem agora ao caso.
«In illo tempore», os comunistas soviéticos destacavam com legítimo orgulho o facto de terem tido uma política cultural de preservação de idiomas que se encontravam em vias de extinção no espaço geográfico do antigo Imério Czarista.
Já em pleno século XX, na França democrática das primeiras décadas, uma criança da Bretanha (por exemplo), que fosse apanhada na escola a falar em bretão, era «corrigida» à palmatoada. No caso das regiões do Sul, fala-se mesmo em «La Vergonha» quando se fala da repressão dos idiomas locais e imposição do Francês oficial. Pelos vistos os governos franceses foram muito mais eficazes do que a correspondente repressão por parte dos dirigentes de Madrid (que culminaram com a ditadura fascista de Franco).
Será por isso que o Euskera é muito mais falado em Espanha do que no «”Pays Basque” Français», onde quase não se encontram pessoas que falem Euskera, embora ostentem a mesma bandeira «nacional».
Com a Catalunha do Norte (o Roussillhão...) sucede o mesmo: quase (!...) não se encontram pessoas que falem catalão. Só Francês. Com a ditadura franquista, a repressão linguística era total, na Catalunha do Sul (a Catalunya «Peninsular»). Foi o advento da democracia (a burguesa, aquela que era «autorizada» pelos poderes «Ocidentais») tornou-se viável a recuperação do Catalão, do Euskera e do Galego. As consequências identitárias (depois de estarem como que a fermentar) estão a vir ao de cima.
No caso do Euskera, por via do ensino generalizado nas escola, tem estado a aumentar a proporção (ainda minoritária) dos que falam correntemente Euskera. Dadas as características do Euskera, não há hipóteses de «sintese» (ou simbiose...). No caso do Galego há uma espécie de nacionalismo mitigado («soft») na medida em que o idioma Galego (a normativa adoptada) faz com que o pessoal de Madrid julge que na TV Galicia se fala «un Português precioso» (foi a expressão que ouvi...) e o pessoal de Lisboa pense que falam um Castelhano muito fácil de entender. Eu diria aí que o Galego é o verdadeiro «Portunhol»!...
No caso da Catalunya a «coisa fia mais fino» pela simples (…) razão de que o Catalão é um língua suficientemente refinada e evoluída para se reclamar de «desenvolvida e civilizada» (o que quer que isso queira significar). Mas acontece que, quer no País Basco, quer na Catalunha, por causa da sua inserção no Estado Espanhol, ao longo de muitas, muitas décadas, houve uma imigração de milhões de trabalhadores vindos de outras regiões de Espanha.
E assim chegámos (ou melhor chegaram eles...) à situação em que graças à abertura da democracia burguesa (a tal consentida pelos poderes «Ocidentais»...) a Generalitat pôde impôr «à força» o ensino do Catalão em todas as escolas, sem no entanto poder fechar as «fronteiras» que impedissem a «invasão» de castelhanos, andaluzes, leoneses, aragoneses, asturianos ou galegos. Os quais (na sua maioria) não são os «burgueses ricos»que se possa imaginar e também têm direito a voto.

domingo, 26 de março de 2017

A Propósito da Central de Almaraz

A Propósito de Energia Nuclear
Alguns dados fundamentais numa perspectiva  global e de longo prazo
ou
«Uma rudimentar defesa do Nuclear em 3 páginas e 10 parágrafos»
Guilherme da Fonseca-Statter - Oeiras, 5 de Março de 2017
Texto enviado a dois ilustres deputados da Nação, em Lisboa e em Bruxelas

1. Parece que estão em funcionamento em todo o mundo cerca de 400 centrais nucleares de «meia-dúzia» de tipos diferentes. Estas centrais nucleares produzem cerca de 330 GigaWatts/hora. Em 28 de Novembro de 2016, havia em 31 países 450 centrais nucleares com uma capacidade instalada de cerca de 392 GigaW/h. Há também 60 centrais em construção com uma capacidade prevista de 60 GigaWatts. Em termos de comparação, Portugal produz anualmente cerca de 50GigaW/h. As mais antigas têm cerca de 45 anos de uso.
2. A tecnologia nuclear actualmente em uso tem o estigma indelevel da utilização militar de alguns dos seus produtos derivados, em particular as bombas atómicas, assim como os três grandes «desastres» que causaram dezenas de mortes directas e muitos milhares de mortes indirectas. E no entanto o número de mortes atribuíveis à produção de energia nuclear é muito menor do que o número de mortes atribuíveis à produção de outras fontes de energia. De acordo com a revista «New Scientist»1, mesmo contando com o desastre de Chernobyl2 as centrais nucleares existentes (mesmo assim...) têm sido menos mortíferas do que as energias fósseis. Na realidade a energia de origem nuclear (mesmo com a actual tecnologia) tem sido, de facto, menos mortífera do que todas as outras fontes de energia. Até por causa da percepção social de perigo, a energia nuclear tem estado sujeita a muito mais disciplina e controle de qualidade do que todas as outras. Exactamente (e paradoxalmente?...) por parecer muito mais perigosa é que é muito mais controlada, tendo muito menos «desastres». Em 50 anos registaram-se três.
3. Os proponentes de uma tecnologia nuclear alternativa, que não apenas a modernização das actuais variações da tecnologia básica acima referida, designadamente o chamado «ciclo tório» têm duas (ou três...) frentes de «combate» para um maior «tempo de antena»: (a) a má fama da tecnologia nuclear em si mesma, (b) os interesses financeiros/industriais da tecnologia nuclear instalada e (c) os interesses financeiros/industriais das indústrias dos combustíveis fósseis.
4. No caso da «má fama», esse até será o combate mais fácil na medida em que se trata «apenas» de esclarecer os «Verdes»3, de forma tranquila e recorrendo à ciência «pura e dura». No caso do combate aos interesses da da tecnologia nuclear instalada é muito mais difícil pela simples razão de que os modelos actualmente em uso (e mesmo os em desenvolvimento para a chamada Geração III) têm como modelo de negócio a «oferta» das centrais, para depois vender o combustível e o serviço. No caso dos combustíveis fósseis o combate será muito mais fácil e até susceptível de formação de alianças com activistas pela cidadania e pela ecologia planetária.
5. Em contraste com o Urânio, e em termos de efeitos sobre a saúde humana, dir-se-á que o Tório simplesmente não é radioactivo. O Tório é cerca de 4 vezes mais abundante na crosta terrestre e está razovalmente distribuído por todo o planeta. Mas considerando que o Urânio-235 (o isótopo que serve de combustível físsil) é apenas 0,7% do urânio natural, temos que o Tório é cerca de 400 vezes mais abundante. No caso do chamado «ciclo tório» importa referir que o Tório não é solúvel na água pelo que nunca haveria o perigo de contaminação química de rios... Por outro lado o Tório tem estado a ser extraído juntamente com as chamadas «terras raras» (essenciais para a fabricação das electrónicas todas que fazem parte do nosso dia-a-dia), mas tem estado a ser posto de lado (e armazenado em bidões, em armazéns ou ao ar livre...) por falta de utilização. Esse mineral Tório já extraído (e refinado...) possui energia nuclear suficiente para electrificar todo o planeta durante alguns milhares de anos.
6. O Tório como fonte de energia nuclear (alternativa ao urânio...) foi testado durante cerca de dois anos num reactor MSR («molten salt reactor» ou «reactor a sal derretido») inventado por Alvin Weinberg, então director do «Oak Ridge National Laboratory» (Tennessee-EUA)4. Especula-se sobre as razões que determinaram o seu encerramento por ordem do então presidente Nixon. A razão mais avançada é a de que a partir do chamado «ciclo tório» de produção de energia nuclear não era possível fabricar os elementos necessários para a produção de bombas atómicas.
7. A tecnologia associada à produção de energia nuclear a partir do «ciclo tório» é radicalmente oposta (inversa, simétrica...) à tecnologia associada à produção de energia a partir do «ciclo urânio». Esta tecnologia actualmente em uso tem duas (ou três) características fundamentais: (a) água pressurizada (em alguns modelos a pressão chega a ser de 100 atmosferas...), (b) combustível sólido e (c) o Urânio-235 (radioactivo) como combustível físsil.
7.a - No caso do «ciclo urânio» é usada água (água comum purificada ou água pesada) sempre pressurizada, para arrefecimento e produção do vapor que movimenta as turbinas que geram a electricidade. Já se tem dito que uma central nuclear «convencional» não é mais do que uma gigantesca panela de pressão. O que deu origem à necessidade de grandes contentores com paredes de betão reforçado com mais de um metro de espessura, envolvendo «panelas de pressão» de «aço especializado»5. Nesta tecnologia, estes incontornáveis requisitos técnicos aumentam desmesuradamente os respectivos custos de produção.
7.b - Por sua vez na tecnologia associada à produção de energia nuclear a partir do «ciclo tório» o combustível nuclear é processado dissolvido em sal de fluor a temperaturas de cerca de 600 graus centígrados mas à pressão atmosférica normal. O mais que pode acontecer é o sal arrefecer e solidificar. Ou seja, não há risco de explosão. Não havendo risco de explosão não há necessidade de sistemas de contenção de ventilação6 que, nas centrais nucleares convencionais, são supostos prevenir/evitar a saída de «gases poluentes» em caso de acidente.
8. Não sendo radioactivo, o Tório também não é físsil. Ou seja, não «explode» nem serve para ser utilizado como combustível «primário». Trata-se pois de um elemento «fertilizante» que (no processo de produção de energia) dá origem a um isótopo temporário e artificial do urânio (não existente na Natureza...) que é o Urânio-233. É este isótopo do Urânio que, ao cindir-se em cadeia (a chamada fissão nuclear em cadeia) vai dar origem à energia térmica necessária para a produção de electricidade, por meio de turbinas a gás.
9. A «indústria nuclear» de hoje é composta por empresas como Westinghouse, General Electric, Toshiba, AREVA, Rosatom, Babcock & Wilcox que prosseguem os seus investimentos na base de reactores arrefecidos a água e alimentados por dióxido de urânio em estado sólido. Não têm qualquer incentivo para mudar, dado que a tecnologia de «sal derretido» («molten salt reactors» ou MSR), na base do ciclo tório, é tecnicamente incompatível com as tecnologias actualmente em uso. Para essas empresas a adopção do ciclo tório sob a forma de «sal derretido» (e à presssão atmosférica normal...), seria como «começar tudo de novo». Assinale-se que os seus rendimentos estão dependentes da «facturação anual» do combustível sólido utilizado nas centrais. Por outras palavras, pode-se argumentar que o seu negócio não é vender energia eléctrica. O seu negócio será antes vender combustível à base de urânio. É para isso que estão vocacionadas.
10. O facto de o tório ser particularmente adequado para os «reactores a sal derretido» permite também recuperar (por separação química) cerca de 90% dos «desperdícios» gerados na produção de energia. Só que muitos desses «desperdícios» são preciosos produtos radioactivos para uso em medicina. O caso mais recente (1997) é o da «produção» de Bismute-213, fundamental para o tratamento de cancro. Irónicamente, o «Idaho National Laboratory» (EUA) tem estado a usar os «restos» do «MSR Experiment», o tal que foi cancelado em 1969... Quando acabar, acabou.

Para concluir, e nas palavras de Carlo Rubbia, Prémio Nobel da Física e director-geral do CERN entre 1989 e 1993,
«Thorium has absolute pre-eminence over other fuel types, including uranium and fossil fuels».
Frase proferida por Carlo Rubbia durante a «Thorium Energy Conference» em Geneva 20137

1https://www.newscientist.com/article/mg20928053.600-fossil-fuels-are-far-deadlier-than-nuclear-power/  
2As mortes em Fukushima não se devem ao desastre nuclear mas sim ao tsunami. As pessoas que morreram, morreram afogadas, não morreram por «irradiação»...  
3São cada vez mais os movimentos de activistas «Verdes» a aderir ao nuclear alternativo... Ver, por exemplo, em https://www.city-journal.org/html/rise-nuclear-greens-13534.html  
4Vale a pena referir que esta tecnologia foi inventada com o objectivo específico de montar um reactor nuclear em bombardeiros da Força Aérea Norte-Americana que deveriam poder voar semanas seguidas sem necessidade de se reabastecer. Tais reactores tinham pois que ser «ligeiros» e «completamente seguros». O projecto da Força Aérea foi abandonado, por se ter tornado desnecessário com a invenção dos ICBM («Inter Continental Balistic Missiles») e o que ficou foi a tecnologia, a qual entretanto foi remetida ao «esquecimento» pelo governo dos EUA. The Molten-Salt Reactor Experiment (MSRE) was an experimental molten salt reactor at the Oak Ridge National Laboratory (ORNL) researching this technology through the 1960s; constructed by 1964, it went critical in 1965 and was operated until 1969. 
https://www.youtube.com/watch?v=c_yQOPZ5CY0 
5O cilindro contentor de um reactor de água pressurizada, para 1.300 MWh, pode ter 12 metros de altura, um diâmetro interior de 5 metros e paredes de 25 centímetros de espessura.  
6«Filtered Containment Venting System».  
7 http://www.the-weinberg-foundation.org/2013/10/28/nobel-laureate-go-thorium/
Volto aqui depois de mais de um ano de ausência.
A Terra continua a girar, houve entretanto uma série de incidentes mediáticos, o sr. Trump foi eleito, em Portugal há um novo governo, a economia mundial continua em «estagnação inercial» (as «coisas» não param de um dia para o outro...) e em Lisboa acentua-se o processo de gentrificação.
Enfim... «tudo como dantes, quartel general em Abrantes».
Entretanto a energia é o «nó górdio», a base fundamental, de qualquer sistema económico ou de qualquer civilização. Marx diria qualquer coisa como «deêm-me o moinho de água e dou-vos o feudalismo»... Não terá sido bem assim, mas se não foi, «tanto faz».
A questão é que por causa dos combustíveis fósseis, dizem-nos os «verdes» e outros «ambientalistas», temos o perigo eminente de um aquecimento global que, dizem alguns mais exaltados, pode mesmo acabar com a vida na Terra, transformando o nosso planeta, num outro planeta Vénus.
Mas é também por causa do petróleo (um dos tais combustíveis fósseis...) que temos tidos as guerras no Médio Oriente e Norte de África e a respectiva destruição de Estados soberanos.
Vem tudo isto a propósito de uma sessão de debate organizada pela Associação Abril (www.facebook/associação abril) para debater o problema da energia nuclear, no contexto de uma discussão pendente sobre a central nuclear de Almaraz, na Estremadura Espanhola.
Acontece que na minha juventude tive ocasião de estudar Química, com gosto e curiosidade mas também com detalhe suficiente para (na Força Aérea) poder exercer funções de «Oficial Técnico de Armamento e Equipamento». Alguma coisa ficou no que diz respeito a uma continuada curiosidade pela natureza fisico-química da produção de energia em geral, e da energia nuclear em particular.  Tema crucial, repito, para a compreensão da «Economia Política do Desenvolvimento».
E foi assim que fiquei algo surpreendido com o desconhecimento sobre essas questões revelado pela dra. Eloísa Apolónia. (deputada) e pelo dr. Carlos Zorrinho (eurodeputado), «palestrantes convidados», quando aquilo que se ia discutir era justamente a questão da «energia nuclear».
Perante aquele desconhecimento - e na minha santa ingenuidade - resolvi enviar àqueles dois dirigentes políticos um brevíssimo apontamento sobre o tema da energia nuclear.
Até hoje só recebi o «aviso de recepção» (e nada mais) por parte do gabinete da sra., deputada Eloísa Apolónia. Da parte do sr., eurodeputado Carlos Zorrinho, até hoje nada. Mas entretanto o Parlamento Europeu adoptou (com os votos a favor dos eurodeputados do PS) o Tratado Ceta o qual, por «portas travessas», pode vir a encorajar a importação de combustíveis fósseis produzidos no Canadá, contra o parecer ciêntífico de ambientalistas canadianos e norte-americanos.
Numa próxima «postagem» coloco aqui o teor do brevíssimo apontamento atrás referido.

sexta-feira, 11 de março de 2016

«Apanhados numa “Secular Stagnation”
http://inteligenciaeconomica.com.pt/?p=25750
03/03/2016
«Entrámos numa “age of secular stagnation”. A tese é de Larry Summers (titular da cátedra Charles W. Eliot em Harvard, President Emeritus of Harvard University, Treasury Secretary for President Bill Clinton, Director of the National Economic Council for President Obama …) e foi agora publicada pela ‘Foreign Affairs’ (edição de Fevereiro). Summers recupera a teoria da “secular stagnation” de Alvin Hansen (1938), mostra como, ao contrário das vulgatas correntes, ela integra os factos da actual crise e procura explicar "O que é" e “o que fazer a esse respeito". Do ponto de vista deste ex-ministro das Finanças de Bill Clinton, “Secular stagnation and the slow growth and financial instability associated with it have political as well as economic consequences. If middle-class living standards were increasing at traditional rates, politics across 
the developed world would likely be far less surly and dysfunctional. So mitigating secular stagnation is of profound importance. (…) secular stagnation does not reveal a profound or inherent flaw in capitalism. Raising demand is actually not that difficult, and it is much easier than raising the capacity to produce.”
E Summers conclui: ”The crucial thing is for policymakers to diagnose the problem correctly and make the appropriate repairs.” Pois… talvez seja aqui que se revela uma ingenuidade de economista: esperar que os políticos façam o diagnóstico correcto e tomem as medidas apropriadas é, realmente, pedir demasiado. Portanto, nesta “age of secular stagnation” (em que o Japão foi, há décadas, o primeiro a entrar), estamos “japonizados” e vamos ser muito mal pagos. Ou então…
The Age of Secular Stagnation: What It Is and What to Do About It
Larry Summers | February 15, 2016 | published in Foreign Affairs
Summers published an article title, “The Age of Secular Stagnation: What It Is and What to Do About It,” in the February issue of Foreign Affairs. The article explores how expansionary fiscal policy by the U.S. government can help overcome secular stagnation problems and get growth back on track».

Tanta conversa para não falar da «lei da queda tendencial da taxa de lucro», nem do correspondente esgotamento de oportunidades de investimento lucrativo de que o capitalismo tanto necessita – «como o pão para a boca», como soe dizer-se... - para continuar a acumular e a existir...
Se ao menos estudassem história económica e, sobretudo, história do pensamento económico.
É neste contexto – de estagnação secular – que deve ser vista a última tentativa (desesperada...) do sr. Mário Draghi de reanimar a economia europeia por via da injecção de mais dinheiro...
Cada vez mais dinheiro... A custo zero... Melhor, até se paga aos bancos para eles receberem mais dinheiro do banco central... A ver se conseguem que se endividem as empresas (as pequenas... as outras não precisam, nem sabem o que fazer ao que já têm...) e as famílias para que, por via do consumo, façam mais encomendas às fábricas e a fornecedores de serviços... Mas sempre à custa do endividamento.
E aqui haja alguém que alerte para que «endividamento a custo zero não é propriamente endividamento»... Do estilo «toma lá este dinheiro, não tens que pagar juros e pagas quando puderes... Sabendo nós à partida que nunca vais poder pagar... Pois que o vais gastar em consumo...».
Dirão eles que não é assim, que a ideia é que com a reanimação da economia (por via do endividamento das famílias e das empresas que não tenham dinheiro «à mão») se venha a criar emprego e portanto a capacidade de repor os empréstimos contraídos.
Bem podem esperar sentados. Desde logo porque a criação de emprego, por causa da continuada progressão tecnológica e de ganhos de produtividade, nunca será proporcional às necessidades de reembolso dos empréstimos – há muito tempo que se sabe disso, há mesmo uma lei empírica a esse respeito.
Na imodesta e profética opinião deste escrevinhador de ideias soltas e peregrinas, só há uma solução. Ou melhor, um pacote de soluções: a redução sistémica de tempos de trabalho para toda a gente (sem redução do poder de compra efectivo) e recuperação de uma forma mitigada de proteccionismo económico nacional.
Isto porque nas actuais circunstâncias geopolíticas não parece viável impôr estas regras a todos os países do planeta. Lembro que os EUA, até hoje, só ratificaram duas das oito grandes recomendações da OIT relativamente a condições laborais.
No centro desse «pacote de soluções» (o pilar central...) estará a recuperação do papel central do Estado como motor da actividade económica, deixando-nos das fantasia pseudo-históricas da primazia da iniciativa privada. Todo o desenvolvimento económico historicamente registado teve por base e motor de arranque a iniciativa e o poder do Estado. O resto são historietas da carochinha, ou da cigarra e da formiga.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um Outro Paradigma Energético

Fiquei sem computador durante 5 dias...
E enquanto o dito cujo estava a ser reparado, entretive-me a ler (em papel) alguns documentos/artigos que fora imprimindo ao longo dos últimos meses. Designadamente sobre questões de energia, meio ambiente e aquecimento global.
Entretanto, uma das coisas, mais interessantes, que me foi confirmada numa tertúlia há uns dias atrás, foi o facto – só aparentemente paradoxal ou bizarro – de que estamos numa situação de «aquecimento global» por causa da «guerra fria» e das bombas atómicas.
Como assim?!...
Que é que a «guerra fria» e as bombas atómicas têm a ver com poluição e aquecimento global?...
Dizem alguns engenheiros que é uma explicação simples, mas «escondida à vista de toda a gente»...
Dizem também que a energia nuclear à base do urânio foi escolhida (em vez de tórium) porque o processamento do urânio (ao contrário do tório) era necessário para a produção de bombas atómicas.
Dizem ainda que a produção de energia nuclear a partir do tório não deixa resíduos que sejam susceptíveis de serem aproveitados para fazer bombas atómicas.
Depois acontece que o uso de tório seria cerca de 200 vezes mais eficiente do que o uso de urânio. É o que dizem os engenheiros que estudam esses problemas...
Depois, dizem também eles, que o processamento do tório, para produzir energia eléctrica é muito, muito menos perigoso do que o processamento do urânio... E depois, e ainda por cima, seria também muito, muito, menos poluente do que o carvão, o petróleo ou mesmo o gás natural...
A Associação Nuclear Mundial (http://www.world-nuclear.org/) explica assim alguns dos seus possíveis benefícios:
«O ciclo de combustível do tório oferece enormes benefícios de segurança de energia no longo prazo, devido ao seu potencial para ser um combustível auto-sustentado sem necessidade de reactores de neutrões rápidos. Trata-se portanto de uma tecnologia importante e potencialmente viável que parece apta a contribuir para o desenvolvimento de cenários credíveis de energia nuclear a longo prazo. Moir e Teller concordam, fazendo notar que as possíveis vantagens do tório incluem a «utilização de combustível em abundância, a sua inacessibilidade a grupos terroristas ou o seu uso para a elaboração de armamentos, além de vantagens económicas e de segurança ambiental. Segundo Richard Martin (escritor/cientista) o tório é considerado a fonte de energia mais abundante, mais rapidamente disponível e mais limpa.»
Os especialistas dizem também que o uso do tório para a produção de energia é cerca de 200 vezes mais eficiente do que o uso de urânio. 
Uma outra vantagem que eles apontam é o facto de - dada a segurança inerente ao seu uso - as centrais poderem estar muito mais perto das zonas de grande consumo. 
Mas, como é claro, natural e evidente, há muitas, muitas opiniões em contrário.

E depois há que justificar (e amortizar) os investimentos já feitos em outras «fontes de energia»...
Em todo o caso, a China e a Índia parece que estão a avançar...
E a França e Reino Unido – que vão precisar, mais cedo do que tarde, de renovar as suas centrais – parece que também já estão a «ensaiar uma central nuclear com base no tório.
http://www.the-weinberg-foundation.org/2013/03/13/uk-joins-test-reactor-project-in-france-with-12-5m-commitment/
A ver vamos...

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A propósito dos ataques terroristas em Paris

A poeira ainda não assentou mas mesmo assim é tempo de lembrar o que pode estar por detrás disso tudo...
Cheira-me a petróleo.
Parece que tudo isto (da guerra civil na Síria e da criação do Daesh-ISIL, ou lá como se chama aquela organização criminosa) tem tudo a ver com o controle do petróleo (e de passagem do gás natural), sendo que para ali existe muito gás e algum petróleo. Aliás dizem que o Mediterrâneo Oriental (as costas da Síria, do Líbano e de Israel tem MUITO gás natural (chega até aos mares da Grécia)...
Muitos se lembram certamente, aquando da «crise» e chantagem sobre o Syriza na Grécia, de como se aventou a possível exploração do muito gás natural (dizem) que por ali há por parte dos gregos como solução para os males que alfigem aquele país. 
Ora acontece que o Estado Sírio (o regime dirigido por Bashar al-Assad) se recusa a privatizar a sua companhia nacional de petróleo... Coisa que certamente iria facilitar a vida ao seu regime, pois que permitiria às grandes empresas anglo-americanas repartir o bolo das vendas mais de acordo com as suas conveniências.
E depois há também a estória de através da Síria se poder traçar um trajecto mais curto para transportar o petróleo do Golfo até à Europa... Sem pagar «portagem» no Canal de Suez, por exemplo...
Sem entrar em teorias da conspiração (factos são factos...), depois da Saddam Hussein e de Muammar al-Kadafi restava «deitar abaixo» mais um «resistente aos ventos da privatização» dos recursos naturais de cada país. Tudo isso para benefício das populações de todos os outros países, claro...
O que «eles» (os donos disto tudo) não fazem para eu ter gasóleo...

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Propósito dos 30 Anos do Multibanco

Dizem nos jornais que passaram agora 30 anos desde o arranque do sistema Multibanco, o qual é usualmente considerado único no mundo pela variedade das suas múltiplas funções. Não se trata apenas de um grande agregado de máquinas de distribuição de dinheiro contra a apresentação de cartões de crédito ou de cartões de débito. É, de facto, muito mais do que isso.
«Há 30 anos que o MULTIBANCO “Movimenta a Vida” dos portugueses com toda a comodidade, segurança e fiabilidade. Só no passado mês de Julho, a Rede MULTIBANCO atingiu um novo recorde mensal alcançando um total de 210 milhões de operações processadas. Mas já imaginou como seria sem o MULTIBANCO? Se não existisse a Rede MULTIBANCO, não seria possível fazer acções tão simples como pagar a água à meia noite ou emitir uma licença de caça ao sábado de manhã. Teríamos de esperar horas em filas para comprar um bilhete de comboio em vez de o fazer sentados no sofá em casa, por exemplo. Ou teríamos de andar com a carteira com moedas para pagar as portagens, em vez de o fazer com o cartão. O MULTIBANCO é, sem dúvida, uma Marca que já faz parte da vida dos portugueses, facilitando as atividades do dia-a-dia».
Do sítio da SIBS.
A esse respeito tenho dito em diversas ocasiões que essa característica (de ser muito mais do que um conjunto de máquinas de distribuição de dinheiro...) e por muito estranho que isso possa parecer a muitos espíritos bem pensantes, se deve ao chamado período do «gonçalvismo». Isso por causa da nacionalização da banca. Entretanto e a esse respeito convém lembrar a «tensão dialéctica» que se desenvolve de modo permanente entre a concorrência e a cooperação entre os diversos agentes económicos, sempre em busca de novas oportunidades de negócio. O mesmo acontece entre os bancos. Entregues a si mesmos procuram ao mesmo tempo, ainda que de modos distintos, cooperar no que diz respeito a conluios para manipular taxas de juros, por exemplo, mas também concorrer pelo dinheiro de todos e quaisquer potenciais depositantes e de pedidos de crédito.
Para caracterizar devidamente o sistema Multibanco são precisas algumas advertências preliminares. Em primeiro lugar, no universo das actividades bancárias ditas de retalho, é conveniente não confundir coisas e funções diferentes umas das outras. Por exemplo convém não confundir cartões de débito com cartões de crédito, duas formas distintas (ainda que complementares) de dinheiro plástico. Em segundo lugar convém não confundir, por um lado, muitos ATM's (ou caixas automáticos) com, por outro lado, um sistema integrado de máquinas e programas que propiciem múltiplas funções monetárias. Em terceiro lugar convém não confundir um sistema integrado de terminais em rede (para proporcionar as referidas funções monetárias), com os múltiplos serviços de cariz mais ou menos similar (mas nem sempre...) disponíveis na rede global «internet».
De facto a informatização de todas as actividades económicas e das actividades financeiras em particular tem permitido o desenvolvimento de sistemas de registo e controle de informação que, até há poucas décadas atrás, poucos de nós imaginávamos. No caso do sistema Multibanco, por exemplo, quando o mesmo foi proposto duvido que os mentores iniciais tivessem à partida uma ideia de que «aquilo» se pudesse vir a transformar no sistema que temos hoje (ViaVerde, Impostos, transferências entre contas, pagamento de facturas, licenças de pesca e etc…)
Entretanto, e por um daqueles acasos da pequena história do planeta, caiu em sorte a este escriba o estar lá (na empresa multinacional de informática) no lugar certo e no momento adequado para estar bem no centro de um processo então em fase de arranque embrionário. «Proposal Team Leader» seria a designação (que veio mais tarde, no jargão empresarial) que então caberia a este escriba na elaboração do estudo técnico-comercial que deu origem à elaboração da proposta técnico-comercial (também de sua co-responsabilidade) que veio a dar origem ao Multibanco. Muito prosaicamente, poderá dizer-se que este comentador foi quem (juntamente com mais dois colegas) fez a venda do sistema multibanco.
A quem procure informar-se, não parece fácil encontrar as raízes do sistema Multibanco, quando o próprio sítio «internético» da SIBS (proprietária e gestora do sistema) não fornece a esse respeito qualquer informação. Algo de estranho se considerarmos que a maioria dos sítios disponíveis de muitas outras instituições financeiras por esse mundo fora fazem questão de mostrar as suas origens. Se eu fosse dado a «teorias da conspiração» suspeitaria que alguém parece ter vergonha das suas origens «revolucionárias». 
A respeito das raízes históricas do Multibanco e da SIBS o mais que consegui, na pesquisa rudimentar a que pude proceder, para complementar memórias pessoais, foram alguns elementos que passo a elencar.
Para além de uma breve referência à história da introdução de cartões de crédito em Portugal (tal como assinalei acima, convém não confundir...) por iniciativa de responsáveis do Banco Português do Atlântico e do Banco Totta & Açores, a partir de uma reunião em Roma em 1969 «destinada a sensibilizar os quadros da banca europeia para a provável expansão dos cartões de crédito e, sobretudo, para que não se incorresse na Europa nos mesmos erros que haviam sido cometidos nos Estados Unidos neste domínio»1, pouco mais se encontra que relate, com um mínimo de detalhe, as origens da SIBS e do sistema Multibanco.
Entretanto, e na opinião do Engº Sebastião de Lancastre, então Director-Geral da Unicre, à «Revista Unibanco» (Março e Junho de 19941) «o sucesso dos meios de pagamento via cartão de plástico em Portugal, ao ponto de estarmos há vários anos perfeitamente a par dos países mais avançados deste campo, se deve fundamentalmente ao facto de se terem tomado entre nós as decisões certas nos momentos certos. Isso é válido tanto para a decisão de criar a Unicre em 1971 como iniciativa conjunta de seis grandes bancos, por mérito, coragem e visão dos quadros superiores bancários a que me referi atrás, como também para a decisão da criação da SIBS em 1981. Neste último caso, é justo que cite aqueles a quem se deve a sabedoria de avançar para uma empresa integrando os vários bancos: Dr. Rui Vilar, Dr. Almerindo Marques, Dr. Palmeiro Ribeiro e Dr. Ribeiro Moreira».
Entretanto, a julgar pelo teor das muitas conversas em que participei na altura, assim como pelo teor do caderno de encargos que tive que estudar ao pormenor, a ideia original dos objectivos estratégicos do sistema que então se perspectivava, parece dever ser creditada principalmente ao acima referido dr. Palmeiro Ribeiro (que este escriba nunca teve o privilégio de conhecer, pois o mesmo já parecia estar afastado do processo).
Poderia este escriba falar sobre “N” discussões «mais ou menos técnicas», designadamente as discussões que vieram dar origem ao PIN de 4 (quatro) dígitos, em vez dos seis que estavam propostos. Para já não falar de um projecto de uma espécie de «contabilidade nacional» (fazia parte do caderno de encargos) e então rejeitado por este escriba por ser demasiado avançado («economia planificada centralmente» à la Janos Kornai 2).
Este escriba tomou conta do processo em 1982/83. Em 1984 já a venda estava concretizada e o processo de instalação e arranque do sistema em andamento. A questão do «gonçalvismo» (que passa despercebido da quase totalidade dos comentadores actuais por não pensarem bem no problema) é simples: se bem me lembro foi por determinação da Secretaria de Estado do Tesouro, a quem cabia a tutela dos bancos comerciais (então ainda todos nacionalizados), que em 1982 todos os bancos aderiram ao sistema SIBS então ainda em formação. Os bancos estrangeiros (se bem me lembro, o BOLSA-Bank of London and South America e o Crédit Franco-Portugais) aderiram porque não tinham alternativa. Não podiam arriscar-se a ficar de fora. O mesmo aconteceu com o Montepio. Nos outros países não há nada de parecido com o o Multibanco justamente porque a nesses outros países (em todos…) os bancos comerciais privados fazem entre si concorrência. O que temos são esboços (que agora começam a desenvolver-se mais …) de alguns bancos que fazem entre si «acordos de cooperação». Mas nada que se compare com o Multibanco.

Pois a esse respeito talvez mereça a pena uma outra reflexão que tem a ver com o uso da tecnologia que vais sendo desenvolvida para benefício da colectividade (ou não...).
Confesso que conheço mal os meandros da Justiça portuguesa. Já tive ocasião de entrar em vários tribunais, já fui testemunha e observador interessado em «meia-duzia» de processos e tive ocasião de observar, com alguma atenção, os procedimentos, mais ou menos arcaicos, que vão sendo adoptados. São do conhecimento geral expressões como «a Justiça não funciona», «estão sempre a prescrever processos importantes», «a Justiça é só para os que podem pagar»... etc., etc. Entretanto, embora tenha um longo percurso profissional numa área profundamente tecnológica, não penso ser um tecnocrata, no sentido de que acho que «isto» não vai lá só (nem sobretudo) com soluções técnicas.
Vem isto a propósito de em tempos ter tido ocasião de ouvir o dr. Marinho Pinto dizer na televisão que os procuradores do Ministério Público não têm acesso directo a bases de dados de entidades (se bem me lembro, posso estar enganado nos detalhes) como as Conservatórias Prediais ou das Repartições de Finanças. E aí cabe perguntar como é ainda possível, num país que se gaba, com toda a razão, de ter o sistema de transacções interbancárias (e não só...) mais avançado do mundo. Se temos em Portugal inteligência e conhecimento tecnológico para desenvolver, e manter a funcionar, um sistema como o sistema multibanco, como é que não somos capazes de montar e manter a funcionar um sistema informático que permita a qualquer agente do Ministério Público (ou a qualquer agente das autoridades públicas, devidamente autorizados) a aceder instantaneamente a toda e qualquer informação necessária e relevante para a investigação criminal, designadamente os crimes de colarinho branco.
E depois lembrei-me (esquecido que eu sou...) de que o sistema multibanco só foi possível por causa do «gonçalvismo»... Logo, uma solução eminentemente política.
De facto, os outros países também têm engenheiros informáticos e programadores de
computadores de altíssima qualidade. Todos os bancos desses outros países têm também ATM's (caixas automáticos) em todas as esquinas... O que não têm é um sistema multibanco... Repito: se somos capazes de ter um sistema com a sofisticação e capacidades do sistema multibanco porque raio de razão é que não somos capazes de ter um sistema informatizado que ligue todos os tribunais, de todo o país, com acesso (devidamente regularizado) por parte de todos os agentes da Justiça?!...
A quem é que isso não interessa?...
Pelos vistos vai ser preciso um novo período de «gonçalvismo»...

1 Revista Unibanco (Março e Junho de 1994)
2 Economista húngaro (nascido em 1928) que se tornou conhecido pela crítica do sistema de planificação central mas que não deixava de sublinhar também o eventual papel da informática como precioso auxiliar para a simulação e controle da economia de mercado por parte das instituições políticas...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A propósito de um editorial no Jornal de NEGÓCIOS (13 de Agosto de 2015)

Escreve Nuno Carregueiro 
«O perigo da queda dos BRIC»
«Se a pujança dos BRIC serviu no passado para atenuar o efeito do crescimento decepcionante nas principais potências mundiais, como os EUA e a Alemanha, a sua queda pode ter consequências imprevisíveis na economia global.»

É verdade, aquilo pode ter «consequências imprevisíveis na economia global.» Ou talvez não sejam tão imprevisíveis assim...
A ver se eu consigo explicar isto em «meia-dúzia» de parágrafos...
1. A economia global - o planeta como um todo - entrou em estagnação mais ou menos há uns 40 anos.
2. Durante uns primeiros anos houve baldúrdia e confusão mas depois inventaram o consumo generalizado a crédito (nos países do «centro») e a «coisa» disfarçou...
Ou seja, «empurraram o problema com a barriga»... Ou varreram o «lixo» para debaixo do tapete.
3. Entretanto os países da «periferia» de maior dimensão - muito em particular a China - com tradição («institucionalizada»...) de «dirigismo estatal», os que vieram a ser chamados de BRICS, começaram a crescer e, durante uns anos, reanimaram a dita cuja «economia global».
4. A «economia global» é um sistema fechado (não exporta nada para Marte nem importa nada de Vénus...). Ou seja, está tudo interligado. O que se exporta para um lado tem que ser importado por outro lado qualquer. E todos os países querem uma impossibilidade matemática (terem todos excedentes na respectiva balança de transacções).
5. Com o rebentar da crise da bolha financeira dos «subprime» - exemplo máximo do consumo a crédito - e sua propagação ao resto do planeta, tornou-se mais visível a estagnação relativa (há uns tantos que continuam a «engordar» dando a ilusão de que o sistema não está estagnado) da economia global.
6. A economia de comando estatal chinesa, também já foi - de há uns anos a esta parte - «infectada» pela lógica intrínseca do sistema capitalista.
E, como tal, mais tarde ou mais cedo teria que entrar em estagnação «local».
A menos que o Estado chinês - por via do Partido Comunista Chinês - tome decisões adequadas (orientadas para o mercado interno) e que sejam contrárias àquela lógica intrínseca do sistema capitalista, estamos todos bem encaminhados para o desastre global.
7. Tudo isto - toda esta «lógica intrínseca» - está dependente (de modo crucial e incontornável) de uma coisa chamada «lei da queda tendencial da taxa de lucro».
Algo que ando a procurar explicar (a quem me quer ouvir, claro...) desde há uns 35 anos anos a esta parte.
Entretanto, e como diria Keynes, «prefiro estar vagamente certo do que exactamente errado»...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

São tantas as explicações para a Crise

Fui há dias comprar o livro do economista Ricardo Paes Mamede, «O Que Fazer Com Este País». De passagem dei uma olhada pelos escaparates e mesas com livros sobre temas da actualidade. Coisa que - em Portugal - já não fazia há umas semanas.
Pelos vistos, qualquer visita a qualquer livraria dá para ver algumas dezenas de livros a explicar a crise e a discutir a dívida... Também há alguns livros a explicar como sair da crise e os meandros da corrupção e de «como chegámos aonde estamos»... Sobre isso cada um que faça as suas leituras e as suas opções.
Para já vou ler o livro com todo o interesse que o mesmo merece e até pelo respeito intelectual que me merece o Ricardo.
Entretanto - e porque o panorama livreiro em França é muito parecido - deu-me para deixar aqui algumas reflexões sobre a «CRISE».
E começo com algumas ideias fundamentais sobre a análise marxiana do sistema capitalista. Depois de algum estudo da referida análise marxiana direi que o edifício teórico desta análise assenta sobre dois grandes pilares:
1. Em primeiro lugar destaco o estudo da relação entre "valores" e "preços". 

Sobre isso há dezenas (julgo mesmo que centenas) de artigos sobre o famigerado «problema da transformação (de "valores" em "preços de produção"). Em tempos dei-me ao trabalho de traduzir «meia dúzia» desses artigos. Terei muito gosto em enviar os PDF's a quem estiver interessado.
Caracterizam-se todos por extensos e complexos exercícios matemáticos.
Para mim a explicação é razoavelmente simples e reside no reconhecimento do papel instrumental (...) dos "preços" na captação de "valores".
2. Em segundo lugar destaco o estudo sobre uma (muito discutida) lei da queda tendencial da taxa de lucro. 

Como a busca do lucro é o motor de toda a actividade empresarial capitalista, é no mínimo insólito que este assunto - do comportamento evolutivo da taxa de lucro - não mereça mais atenção mediática. Estou aqui a lembrar-me da atenção mediática dada à «descoberta do "bosão de Higgs"» (coisa crucial para a vida de milhões desempregados...).
Sobre essa famigerada lei da queda tendencial também há centenas de artigos mas - devo assinalar - tudo isso nos círculos esotéricos de alguns meios académicos. E no entanto é isso - o comportamento da taxa de lucro - que, tal como as "fundações" dos prédios que fazem os engenheiros civis, está na base dos sobressaltos todos da nossa vida económica.
Entretanto, aqui há uns atrás veio um senhor economista matemático japonês - de seu nome Nobuo Okishio - demonstrar por «a + b» que afinal não só não há nenhuma queda tendencial da taxa de lucro, como até o que há é uma subida tendencial da dita cuja taxa de lucro. Segundo Parijs (1980) o assunto ficava encerrado e não valia a pena falar mais nisso.
Pois bem, reclamo para mim o mérito (?...) de ter demonstrado, por via de um algoritmo elaborado já há uns trinta e cinco anos, que «está quase tudo certo e está quase tudo errado»... O estudo de Hegel dá nisto...
Quero eu dizer que há umas fases em que a taxa de lucro tende a subir e depois há umas fases em que tende a descer... E pelo meio há uns períodos de «transição de fase».
Era tão bom se houvesse gente com poder político que quisesse perceber isto.
E se a minha avó tivesse asas voava.